Em dezembro de 1964, Paulo Leminski colaborou com a revista Invenção publicando cinco poemas, feito que além de contribuir com a 4ª edição da publicação, impulsionou a estreia de Leminski na escrita. Afinal, o que foi a revista Invenção?
Entre janeiro de 1960 e fevereiro de 1961, circulava sempre aos domingos — salvas excepcionalidades — uma página do jornal Correio Paulistano intitulada Invenção. Nessa página, comentavam-se artes plásticas, músicas e, claro, poesia. Os membros que compunham a equipe editorial eram os seguintes: Augusto de Campos; Haroldo de Campos; Décio Pignatari; José Lino Grünewald; Pedro Xisto; Edgard Braga; Cassiano Ricardo e Mário Chamie. A página que circulou por aproximadamente um ano teve participações de estrangeiros, como a do filósofo e ensaísta alemão Max Bense e contava com os trabalhos de Alexandre Wollner na organização gráfica.
Um ano após o fim da página que circulava no corpo do jornal Correio Paulistano, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, José Lino Grünewald, Pedro Xisto, Edgard Braga, Cassiano Ricardo, Ronaldo Azeredo e Mário da Silva Brito fundaram a revista Invenção. Os irmãos Campos, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo e José Lino Grünewald formavam o grupo Noigandres, surgido em 1952, responsável pela revista de mesmo nome que circulou até 1957. Tal qual a Noigandres, a Invenção também era porta-voz da poesia concreta e teve seu nome inspirado nos escritos de Ezra Pound.
A Invenção circulou entre 1962 e 1967 com tiragens que oscilavam entre 100 e 1000 exemplares, com retorno financeiro quase nulo ou inexistente. Uma prática muito comum era a distribuição de exemplares aos interessados pelo tema e amigos, haja vista o não sucesso de vendas. As técnicas de impressão utilizadas na confecção dos exemplares tinham na serigrafia, na tipografia, clicheria e no processo offset sua fundamentação e os custos bancados pela equipe editorial. Apenas a primeira edição da Invenção (1° trimestre de 1962) teve os custos arcados pela editora GRD.
Declaradamente divulgadora da poesia de vanguarda, a Invenção ampliou o leque de colaboradores e participações especiais — com contribuições de não poetas e estrangeiros. O único jornalista habilitado, Décio Pignatari, teve de assumir a direção da revista da primeira até a última edição e durante esse período presenciou saídas e entradas na equipe de editores. Cassiano Ricardo talvez seja a mais importante dessas saídas. As cinco edições da Invenção se notabilizaram difundindo o movimento concreto e preocupando os conservadores da linguagem. No entendimento do historiador Khouri (2006) “por suas propostas radicais, a Poesia Concreta, em suas realizações teórico-críticas e práticas, provocou polêmica e um dolorido repensar da tradição (para se fazer poesia no Brasil era necessário ter, pelo menos, conhecimento da façanha concretista. O nível de exigência para o ser-poeta se elevou)” (KHOURI, 2006, p. 32).
A revista Invenção pode ser encontrada na seção destinada ao escritório de Paulo Leminski na exposição no MCG.
Referência
KHOURI, O.. Noigandres e Invenção: revistas porta-vozes da poesia concreta. FACOM (FAAP), v. 16, p. 20-33, 2006. Disponível em: >http://www.faap.br/revista_faap/revista_facom/facom_16/omar.pdf>. Acesso em 04 de ago. de 2021.
Pesquisa e texto: Ricardo Enguel Gonçalves, especial para o Museu Campos Gerais.
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