A saúde mental que não se ensina nas escolas

A saúde mental que não se ensina nas escolas

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Ponta Grossa acompanha a realidade paranaense ao não desenvolver ações para saúde mental nas escolas

Dentre os assuntos mais corriqueiros, principalmente após o fim das atividades remotas, está o debate sobre a saúde mental. A situação ainda é mais crítica quando o tema diz respeito a professores e estudantes. Os estudos mostram um tendão de Aquiles na área da educação em não desenvolver ações de prevenção de problemas na saúde mental à comunidade escolar. Pesquisa realizada pelo Datafolha, a pedido do Itaú Social, Fundação Lemann e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), indica que 34% dos estudantes do ensino fundamental estão com dificuldade de controlar suas emoções e o percentual sobe para 40% entre estudantes do Ensino Médio.

Assim como em todo o Paraná, os estudantes dos colégios estaduais de Ponta Grossa espelham essa realidade, não recebem uma educação clara sobre saúde mental e também não têm acesso a tratamento psicológico. Quem afirma isso é a professora de informática, Gabriele Buhali, que leciona na rede estadual da cidade. “Não tem nenhum tipo de assistência psicológica para os alunos ou professores. Nós entendemos que seria importante, muitos alunos refletem os problemas enfrentados em casa dentro da sala de aula”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental como sendo “um estado de bem-estar em que o indivíduo reconhece as suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de contribuir para a sua comunidade”.

A condição também acomete os alunos. Thaise de Fatima, estudante do nono ano de 14 anos, relata que no colégio estadual onde estuda se tornou comum encontrar alunos sofrendo crise de ansiedade ou chorando no banheiro. Alguns casos são relatados à equipe pedagógica, porém há outros problemas. “Assim como uma amiga minha, muitos não querem que os pais fiquem sabendo. Eles não querem ser vistos como fracos ou sendo só mais um problema para a família. O colégio não tem muito o que fazer, ajuda como pode, conversando”.

Quando questionada se havia psicólogos disponíveis ou se profissionais da educação falam sobre saúde mental em sala, a resposta foi direta: “Nunca soube de alguém nessa área que trabalha lá, acho que não tem não. A gente ouve falar, mas nunca é algo muito aprofundado. Nunca, de fato, nos ensinam o que devemos fazer para melhorar se a gente estiver mal”. 

A Prefeitura de Ponta Grossa realizou no mês passado a Mostra Cultural em Saúde Mental com o intuito de sensibilização, discussão e prevenção do suicídio. Promovido pela Gerência de Saúde Mental da Fundação Municipal de Saúde em parceria com o Colégio Instituto de Educação, único a receber a ação na cidade. O evento reuniu cerca de 350 estudantes que puderam acompanhar performances musicais e declamação de poesias. A reportagem entrou em contato com a Secretaria da Educação e do Esporte (Seed) do Paraná e informou que os professores têm um projeto específico voltado à classe de professores, o ‘Bem Cuidar’, que oferece consultas psicológicas gratuitas, mas o mesmo atendimento não é ofertado às crianças e adolescentes. 

A psicóloga Sonia Mendes realiza atendimento a crianças e adolescentes e explica que é importante atender as necessidades dos estudantes que estão sensibilizados. “Evitando a institucionalização e o uso de medicação excessiva, tentando sempre priorizar abordagens não medicamentosas e respeitando os direitos das crianças”. Ela diz que ao realizar consultas com a faixa etária de 10 a 19 anos busca promover o bem-estar psicológico e ensinar o adolescente a lidar com experiências adversas e fatores de risco que possam afetar seu potencial. “O objetivo é fazer ele prosperar. Estes cuidados não são apenas fundamentais para a mente, mas também para sua saúde física e mental na vida adulta”, afirma.

 

Ficha técnica

Reportagem: Kauana Neitzel

Edição e Publicação: João Gabriel Vieira Koslovski e Lucas Müller

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Carlos Alberto de Souza, Cândida de Oliveira


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