Festa junina brasileira tem influência dos povos indígenas da América do Sul

Festa junina brasileira tem influência dos povos indígenas da América do Sul

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Os tradicionais arraiás estão ligados ao Ano Novo Andino-Amazônico, comemorado entre os dias 20 e 21 de junho

As festas juninas no Brasil, por conta da colonização católica portuguesa, são atreladas como homenagem a três santos: São João, Santo Antônio e São Pedro. Entretanto, o que poucos sabem é que antes mesmo da dominação do território brasileiro pelos europeus, os povos sul americanos já comemoravam a data. A nossa festa junina, na verdade, possui influência de uma cultura milenar dos povos originários, da região da Cordilheira dos Andes e Amazônia. Muitas das tradições juninas que temos hoje, advém do Ano Novo Andino Amazônico.

Após a catequização dos povos indígenas pela dominação europeia, as tradições e o período do Ano Novo Andino-Amazônico, também conhecido como “Wiñoy Tripantu”, foram apropriadas pelo calendário católico de forma sincrética, tornando-se a festa de São João. Alguns costumes feitos até hoje nas festas juninas brasileiras possuem influências desta celebração indígena, como por exemplo os pratos típicos com milho, amendoim, mandioca e batata-doce, os quais faziam parte da agricultura da região, a utilização da fogueira como centralidade da festa e as danças na parte da noite com cantigas tradicionais.

De acordo com Alohá Queiróz, componente do Centro Cultura Andino-Amazônico, outro elemento da festa junina brasileira que também advém das festas juninas indígenas é a típica bebida Quentão. “No Brasil é feito com o vinho e fervido com especiarias. Na comemoração indígena, se bebe a Chicha, que é muito parecida com quentão, mas é feita da fermentação do milho, e servida com canela e cravo”, aponta.

A “Wiñoy Tripantu” é comemorada em 21 de junho, data do Solstício de Inverno, dia em que o hemisfério sul recebe a menor iluminação solar, acarretando na noite mais longa do ano. Este fenômeno astronômico marca a saída do outono para o início do inverno. Conforme Alohá Queiróz, a celebração comemora a troca de estações como forma de simbolizar o início de um novo ciclo. O novo ano também celebra as mudanças climáticas promovidas pelo inverno, como a incidência de chuvas e a fertilidade da terra. Durante o Ano Novo Andino são cultuados Pachamama, que é a mãe terra, e Tata Inti, o pai sol. “Na meia-noite do dia 21, é realizado o ritual do sol, um momento de purificação e limpeza espiritual para o ano novo que se inicia. Geralmente é feito por um casal, os Yatiri, que são autoridades espirituais como xamãs ou pajés”, explica.

Segundo Alohá, os Yatiri utilizam vestimentas coloridas e adereços prateados, que simbolizam os quatro elementos, água, fogo, vento e terra. “O ponto principal da festa é mais ou menos 6h 45, no nascer do sol. Nesse momento os Yatiris colocam uma série de oferendas, o que eles chamam de mesa, para agradecer o novo ano que se inicia”, conta.

Celebração do ano novo Aymara / Foto: Acervo Centro de Apoio e Pastoral do Migrante

Outra parte importante do ano novo andino é a recepção dos participantes da celebração. Esta recepção é feita pelas “Cholitas”, mulheres que vestem roupas típicas bolivianas, caracterizadas pelo uso do chapéu-coco, saias estampadas até abaixo do joelho, xales coloridos e duas tranças no cabelo. Vanessa Quispe Condori, brasileira que viveu até seus 12 anos na Bolívia, integrante do Centro Cultural Andino-Amazônico, participou do Ano Novo Andino-Amazônico em 2022 como Cholita.

Durante a recepção, Vanessa conta que utilizou as roupas de Cholita de sua mãe, como forma de resgatar sua cultura. Apesar de sua nacionalidade ser brasileira, etnicamente Vanessa se considera boliviana. “Sou da etnia Aymara, moro perto do Lago Titicaca e das Ruínas de Tiwanaku, em La Paz. Minha introdução à cultura indígena começou desde minha infância no campo. Meus avós, pais e tios falam o Aymara e eu estou em processo de resgatar a língua. Sempre tive curiosidade de saber sobre os povos originários do Brasil, e em 2022 comemorei os 5530° Ano Novo Andino Amazônico”, compartilha.

A data é comemorada por diversos povos indígenas sul americanos, como os Quéchua, que fazem parte do Equador e Peru, Ushuaia componentes da Argentina, Mapuche no território do Chile, Tupinambá que compõem um dos povos originários do Brasil e Aymara na Bolívia.

Ficha técnica

Reportagem: Valéria Laroca
Fotos: Acervo Centro de Apoio e Pastoral do Migrante
Edição e Publicação: Kathleen Borges Schenberger
Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Muriel E.P. Amaral


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