Produtividade tóxica que estabelece padrões inatingíveis

Produtividade tóxica que estabelece padrões inatingíveis

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Não é apenas sobre o trabalho, ela atinge todos os âmbitos da vida

 

Você se culpa por descansar? Ou se sente perseguido pela palavra produtividade? Se vê refém do trabalho, mesmo que goste do que faz? Se sua resposta for sim para alguma das perguntas, ou todas, não se preocupe:você é apenas mais uma pessoa atingida pela produtividade tóxica. É mais um entre os depressivos e fracassados que o autor sul-coreano Byung-Chul Han caracterizou como sintomas da sociedade do desempenho na obra Sociedade do Cansaço. O sentimento de fracasso é comumente advindo da culpa e por não atingir a alta produtividade exigida pelo trabalho.

Na produtividade tóxica, apesar de existir a exaltação do trabalho, todos os âmbitos da vida profissional e pessoal são atingidos. O valor da vida individual é avaliado a partir de sua utilidade e há total dedicação ao âmbito profissional. Além de existir a constante necessidade de ser uma pessoa sociável e inteirada de todos os debates atuais. Nesse último caso, o sentimento de alienação se faz presente. O problema não são essas características pela natureza delas, mas na cobrança que são impostas aos seres humanos para equilibrarem tudo a ponto de perfeição, sem espaço para falhas.

A vestibulanda de medicina, Giovanna Pessin, de 20 anos, se reconhece como vítima da produtividade tóxica. Ela acredita que sua autocobrança vai além do que é necessário. “Até certo ponto eu acho esse contexto positivo, porque você estimula a pessoa a algo que, em tese, é positivo, como o trabalho e o estudo. Mas tudo tem um limite”, argumenta. A estudante relata sentir culpa com frequência e que não consegue aproveitar nem um momento de lazer porque está sempre se cobrando. “Eu nunca consigo, de fato, viver o momento em que estou”, relata.

Ansiedade é uma das características dessa produtividade tóxica, considerando que a pessoa está, o tempo todo, se preocupando com o que irá acontecer e se preparando para o futuro. A culpa de Giovanna se projeta nessa ansiedade pelo futuro, ela relata que em todos os momentos em que sente culpa por não cumprir alguma de suas responsabilidades, é como se estivesse colocando em risco seu futuro.

Aos 58 anos, a psicóloga que preferiu não ser identificada para preservar relações com seus clientes, também convive com a culpa. Ela relata que, apesar de se sentir gratificada profissionalmente, se sente cobrada em outros âmbitos de sua vida e descanso é um conceito desconhecido. “Eu preciso ser útil, estudar, ver filmes, documentários ou livros que me sejam úteis, tanto profissionalmente quanto para meu desenvolvimento pessoal. Só que chega segunda-feira e a minha vontade é de não atender ninguém”, desabafa. Seus momentos de lazer são praticamente inexistentes e o tempo dedicado ao desfrute dá espaço a preocupações e outras aflições.

A sensação de improdutividade persiste em um contexto em que parâmetros desumanos são estabelecidos. A psicóloga Larissa Villar observa que se trata de uma mentalidade de massa que relaciona a produtividade com valor próprio. A profissional destaca a importância de um resgate do indivíduo em meio a essa toxicidade massificada. “O indivíduo vai reconhecendo mais qualidades dela, se descondicionando desse padrão. É importante que a pessoa questione a estrutura e busque entender o que é válido para si mesma”, explica. Larissa destaca que a crítica é uma importante ferramenta para não permanecer alienado nesse contexto: crítica às estruturas sociais, padrões, e essa forma de produtividade que vemos no mundo inteiro com essas questões que envolvem o capitalismo.

 

Ficha técnica
Reportagem: Cassiana Tozati
Artes: Cassiana Tozati
Edição e Publicação: Catharina Iavorski
Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Muriel E.P. Amaral

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