História

RESUMO HISTÓRICO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

O primeiro registro oficial da extensão no Brasil foi o Decreto Lei n. 19.851, de 1931. Segundo a concepção desta época, a extensão funcionava como uma modalidade de curso, conferência ou assistência técnica rural, destinada aos diplomados. Suas finalidades eram o progresso da ciência (por meio da pesquisa) e a transmissão do conhecimento (por meio do ensino). Na década de 60, sob a pressão do Movimento Estudantil, surgem ações de algumas universidades, mais voltadas para as populações carentes e com caráter assistencialista. Em consonância com isso, em 1966, dá-se a criação do Projeto Rondon, pelo governo militar. Com o intuito de levar o estudante universitário a engajar-se num plano desenvolvimentista e tecnicista. No mesmo ano, e ampliando tal política, foi criado o CRUTAC – Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária. Neste mesmo período, iniciavam-se as ações extensionistas na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

A maioridade da Extensão vem com o primeiro FORPROEX – Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão, em 1987. A bandeira levantada é a da indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, cabendo a esta última um papel fundamental dentro das práticas pedagógicas e dos trabalhos de pesquisa.

Tal concepção:
- Permite que se teste e se reelabore o saber acadêmico, no mesmo instante em que se prestam serviços para a comunidade e se democratizam os conhecimentos.
- Na pesquisa, a ação extensionista funciona no sentido de considerar para quais fins e para quais interesses se buscam novos conhecimentos.

É neste estágio de valorização da extensão que nos encontramos. Saliente-se que esta área vem ocupando mais espaço nas políticas públicas.

A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA UEPG

A primeira ação de extensão na UEPG deu-se em 1971. E já em 1973, ocorreu a criação do Grupo de Teatro Universitário e do FENATA – então Festival Nacional de Teatro Amador. Em 1974, nasceu o CRUTAC, que passou a funcionar em 1976, e é o último centro em funcionamento no país. Em 1977, surgiu o projeto Themis, hoje Pró-Egresso, que faz o acompanhamento técnico do indivíduo que sofreu sanção penal. Na década de 80, com as mudanças sociais e políticas, a Extensão, nacionalmente, deixa de ser vista como destinada a ofertar cursos e serviços para a comunidade e passa a fazer uma maior articulação com o ensino e a pesquisa. A população não é mais vista apenas como receptora de conhecimentos e práticas. Passa a haver um efetivo diálogo entre Universidade e Comunidade.

O PRÉDIO DA PROEX

A Pró-Reitoria de Extensão e de Assuntos Culturais da UEPG está sediada no prédio tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado do Paraná, localizado na Praça Marechal Floriano Peixoto, 129, centro de Ponta Grossa - PR.

Sua história está muito bem retratada na Dissertação de Mestrado em História da Dra. DROPA, Marcia Maria (A memória do patrimônio histórico tombado em Ponta Grossa-Paraná. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP, Brasil, 362p. 1999), a qual colocamos abaixo, na íntegra, os relatos e considerações do referido prédio.

Contexto Histórico

"A história inicial deste prédio está ligada ao comércio da cidade, uma vez que foi o estabelecimento comercial de propriedade de Guilherme Naumann.
A origem do comércio em Ponta Grossa está  vinculada à atividade tropeira, em função de que a Freguesia estava ligada e fazia parte do Caminho das Tropas, propiciando sua integração à economia nacional, mediante a  criação, o aluguel de campos para a invernagem e a própria comercialização do gado. Além disso, o próprio movimento das tropas que passavam pela cidade levou a um crescimento do povoado, e chegou à condição de Freguesia, transformando a atividade do comércio em estabelecimentos permanentes.
Em função da construção da Estrada de Ferro Paraná, em 1894, e o início da construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, em 1896, Ponta Grossa passou por um crescimento urbano significativo, desenvolvendo suas atividades comerciais. Num primeiro momento, essas atividades estavam ligadas ao beneficiamento e transporte da erva-mate e, posteriormente, fazendo surgir novas casas de comércio, bem como consolidando as já existentes, uma vez que o “comércio de atacado e varejo de secos e molhados, sempre se constituiu num dos baluartes da arrecadação mantenedora do progresso da cidade” (Pinto &Gonçalves, 1983, p.58).
Importante ressaltar que, apesar de existirem casas comerciais desde o início do século XIX, sem dúvida o crescimento do comércio foi favorecido também pela chegada de imigrantes, que “alcançaram pouco a pouco posição considerável na estrutura sócio-econômica da região”(Ibid. p.58).
Dentre as casas comerciais que mais se destacaram pode-se citar, a Casa Juca Pedro (1840), Casa Vilela (1854) e, a partir de 1880, os imigrantes começaram a fundar suas propriedades, como: Casa de Sementes Augusto Canto (1885), Casa Progresso da Família Holzmann (1893), Estabelecimento do Sr, Vicente Motti (1894), Casa Osternack (1896), Casa Romano (1906), entre outras.
As características arquitetônicas das casas comerciais em Ponta Grossa, a partir da década de 1910, serão marcadas pelas construções de dois andares, onde o andar inferior servia para o comércio e o superior para moradia. Poucos foram preservados, e um deles é o Edifício Guilherme Naumann.

Guilherme Naumann

A partir do início do século XIX, é que existem as primeiras notícias da chegada de imigrantes no Paraná. Em 1829, em Rio Negro, instalou-se o primeiro núcleo de imigrantes alemães. Em 1847, imigrantes franceses se estabeleceram nas margens do Rio Ivaí e, em 1852, em Superagui (Paranaguá), fundou-se um novo núcleo com franceses, suíços e alemães. Estas primeiras iniciativas não prosperaram em função da falta de uma política imigratória eficaz, pois os primeiros núcleos tinham antes de tudo a função de preencher vazios demográficos.
Quando da instalação da Província do Paraná (1853), existiam na região não mais de 500 colonos. Foi a partir deste momento, que passou a existir uma preocupação mais efetiva não só com a vinda de imigrantes, mas também com as condições que seriam oferecidas a eles, para que pudessem se desenvolver. A partir da década de 70, a vinda de imigrantes se intensificou em número e etnia. Chegaram ao Paraná alemães, poloneses, ucranianos , italianos, suíços, russos, entre outros.
Ponta Grossa começou a receber, desde a segunda metade do século XIX, levas de imigrantes das mais diferenciadas etnias, diversificando não somente a população, mas também as atividades econômicas. Entre essas levas, destacou-se a alemã, com muitos imigrantes vindos diretamente da Europa e outros reimigrando de outras regiões do Brasil, principalmente do sul e também de países sul-americanos. Destacam-se na cidade as famílias Albach, Hilgenberg, Hoffmann, Holzmann, Kossatz, Thielen. Ressalta-se que essas famílias eram de imigrantes alemães e russo-alemães.
E, nesta conjuntura, chegou a Ponta Grossa procedente da Alemanha, Guilherme Naumann (1890) e, de acordo com Gilberto Zardo, foi o segundo germânico a pisar em terras dos Campos Gerais. Casado com uma ponta-grossense constituiu uma numerosa família. Sapateiro por profissão, montou na Praça Marechal Floriano Peixoto sua sapataria “que graças ao seu talento prospera rapidamente”, segundo Gilberto Zardo.
Com o crescimento de seu negócio, no início do século XX, iniciou a construção de um edifício com dois pavimentos no próprio local onde residia, passando a atuar também no ramo do comércio de ferragens, possuindo  uma variedade de artigos comercializáveis. Sua loja possuía desde ferramentas simples e utilitárias até famosas máquinas de costura das marcas Singer e Original Vitória, sendo que estas eram importadas da própria Alemanha e  da América do Norte.
Ao edifício deu o seu nome, passando a ser conhecido como Edifício Guilherme Naumann. Ao observar a construção, apesar de ter sido descaracterizada com o tempo pelas próprias funções que o prédio assumiu, pode-se supor a vontade de um homem que queria fazer parte de uma sociedade, procurando destaque pela profissão e também pelo lado material, transferindo para a fachada de sua casa a importância que a sociedade não lhe conferia.  Isso em função de que, uma das grandes dificuldades dos imigrantes foi a integração com a comunidade local.
Uma hipótese para tentar justificar os detalhes arquitetônicos do prédio pode ser a de que o proprietário tentou imprimir externamente uma preocupação de aceitação, de passar ao imaginário das pessoas, por meio do concreto, a importância que possuía. Afirma  Baczko (1985,p.301), “é próprio da imaginação transportar o homem para fora de si próprio. Nenhuma relação social, é possível sem que o homem prolongue sua existência através da imagem que tem de si próprio e de outrem”.
Essa questão de transferência do ser ou então do vir a ser do homem, por intermédio de construções materiais, pode se tornar uma questão a ser  debatida na ciência historiográfica.

Histórico do Prédio

É um edifício de dois andares, localizado na Praça Marechal Floriano Peixoto n.º 129, no Centro Histórico da cidade, pertencente à Universidade Estadual de Ponta Grossa e serve de sede para a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais, daí ser conhecido como prédio da PROEX.
Construção iniciada por volta de 1900 e concluída em 1906. Depois da Catedral, destaca-se como sendo o prédio mais alto da cidade. Em função de sua localização privilegiada, era visto dos mais diversos pontos.
Guilherme Naumann dividiu sua propriedade em dois setores: a parte inferior, que era a sua loja, e a parte superior, que servia de morada da família. Manteve sua loja de ferragens naquele local até 1933, quando a mesma foi vendida para o Sr. Proxedes Gonçalves Pereira, residente na Capital (Curitiba) que, a partir de então, não ocupa o imóvel, passando a alugá-lo a outras pessoas.
O prédio, que era construído para moradia e comércio, passou a receber as mais diferenciadas funções, sendo adaptado à exigência de cada uma delas, o que veio a descaracterizá-lo tanto interna como externamente.
A primeira função a ele designada foi a de ser sede do Serviço de Telégrafo e mais tarde sede da Companhia de Correios e Telégrafos, a qual permaneceu no imóvel por mais de 10 anos.
Com a saída do serviço de  Correio e Telégrafo, o prédio voltou a assumir novamente uma atividade comercial, desta vez como sede da farmácia do Dr. Jayme Gusmann que, além do comércio farmacêutico, possuía no local um laboratório de manipulação.
O proprietário do edifício, Sr. Proxedes, após a desativação da farmácia, vendeu-o para o Governo do Estado do Paraná, sendo então instalada no local a Faculdade de Odontologia. Esta nova função permaneceu por dois anos, quando a Faculdade foi desativada por não ter sido reconhecida pelos órgãos oficiais de ensino superior.
Depois de algum tempo desocupado, o Governo do Estado, seu proprietário, instalou no local os Escritórios do DER – Departamento de Estradas de Rodagem, que permaneceu por volta de 10 anos.
Com a transferência do DER para sede nova e própria, o Governo do Estado permitiu então que no local fosse instalada a Sede dos Escoteiros de Ponta Grossa, bem como a Creche Pureza Ribas. A saída destes dois órgãos aconteceu em função do precário estado de conservação em que se encontrava o prédio. O prédio, construído no início do século, adentrou a década de 80 bastante descaracterizado do seu original.
A partir de 1980, a Universidade Estadual de Ponta Grossa, passou a solicitar ao Governo do Estado o direito de uso do imóvel e, no governo de José Richa, foi lavrada em cartório uma Escritura Pública de Cessão de Uso de Imóvel, sendo o órgão cedente o Governo do Estado do Paraná e como outorgada cessionária a Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ocorreu um trabalho de recuperação parcial do prédio e, a partir de então, tornou-se sede do Centro de Criatividade, posteriormente passando a abrigar a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais.
Tornou-se também um espaço para exposições de artes plásticas, e um local onde a Universidade oferece para a comunidade os mais variados tipos de cursos como: pintura, escultura, serigrafia, canto e instrumentalização musical. Em 1990, o edifício foi tombado pela Coordenadoria do Patrimônio Histórico do Paraná e desde o seu tombamento a Universidade solicitou à Secretaria da Cultura uma restauração no prédio. Segundo os relatórios técnicos de 1990, foram preconizadas soluções técnicas para deter o processo degenerativo, principalmente na estrutura de madeira que dá sustentação ao telhado.
Em 1991, novos pedidos foram encaminhados. Novamente, em 1995, ocorreu vistoria técnica e um novo pedido de restauro, agora acrescentado de uma documentação fotográfica do estado precário do prédio. A deteriorização, passados cinco anos do tombamento e pedido de restauro, havia agravado o estado interno do prédio. A partir de 1995, os pedidos junto à Secretaria de Cultura do Estado foram  de  restauro total. Em 1998, foi dado início ao processo de recuperação da estrutura interna e externa do prédio.

O Prédio e sua Arquitetura

Se em relação ao  prédio do Fórum há registros de seus criadores, com o prédio da PROEX não ocorre o mesmo. Não se conhece o autor do projeto nem seu construtor, mas, pode-se afirmar que, em relação a esse edifício e seu proprietário, existem grandes incógnitas. Apesar de ter sido uma grande loja de ferragens, não foram encontrados documentos em relação à sua história. Percorridos jornais, álbuns e revistas da época, além de uma pesquisa no “Arquivo da Prefeitura”, nenhuma referência foi encontrada.
Mas o prédio está lá, e o que chama atenção foi a sua permanência pois, com exceção do Prédio do Fórum, todas as antigas construções da Praça Marechal Floriano Peixoto já desapareceram.
Segundo Rosina C. Parchen, este prédio com suas características arquitetônicas, a qualidade dos detalhes internos e externos, bem como a sua privilegiada inserção no espaço urbano, confere-no inquestionável importância”.
Essa afirmação solidifica a questão colocada no início, além de este prédio estar bem localizado estrategicamente do ponto de vista geográfico, pode ser observado (figura 56) que ele também estava num local privilegiado do ponto de vista econômico, na região nobre da cidade.
Imponente edifício de dois pavimentos, sem recuo de testada, construído no alinhamento da rua, suas paredes são de alvenaria de tijolo e sua cobertura de duas águas, completadas com telhas francesas. De acordo com o Código de Posturas do município, por ser uma construção sem recuo,
 o telhado é escondido por uma platibanda abalaustrada, quer dizer, platibanda é vedada por balaústres, formando uma moldura, conforme pode ser observado nas figuras 59 e 60. Esta platibanda, na época da construção, era completada por pontas em forma de pequenos globos.
Na fachada do prédio, destacam-se ressaltos em massa em cima das janelas, que merecem ser referenciados pela técnica e perfeição com que foram executados. Na parte térrea, os paramentos são tratados a bossagem e, no superior, são lisos com adornos de sobreverga em volutas (figura 61).  Os vãos das janelas superiores são rasgados e guarnecidos por guarda corpo de balaústres, isto é, sacadas abalaustradas. Completam a fachada dois balcões sobre robustos modilhões.
Observar o prédio da PROEX é afirmar que a arquitetura pode ser um aspecto visual da história. Neste sentido, pode-se levantar a hipótese que nas  suas linhas arquitetônicas, em sua localização geográfica, seu proprietário procurava mostrar no aspecto exterior de sua residência o valor econômico que o prédio possuía pois, muitas vezes, a amplidão das formas exibe o poder de seu possuidor. Foi construída em uma época em que o discurso de progresso e modernização por meio do crescimento urbano era vivo na cidade. Quem possuía um destaque econômico, transferia para sua propriedade ornamentos tais, como a dizer, aqui a riqueza existe. Afirma Coelho Neto, “o modo de disposição e de atribuição de significados ao espaço é na verdade um dos elementos da infra-estrutura do comportamento humano” (1997,  p.41).
Convém destacar que o prédio estudado sofreu várias alterações durante os anos de sua existência, para que fossem cumpridas as funções que a ele delegavam. Na fachada externa, ora abriam novas portas, ora fechavam-nas, transformando-as em janelas. Os diferentes usos que se faz de um certo espaço e os diferentes sentidos que se atribuem a ele conforme a cultura e a época, podem levar a uma descaracterização da função original do bem, e isso aconteceu nesse prédio.
O processo de restauro do prédio da Proex é uma forma de “refurbishment”, que é um modo de reorganização espacial, ou seja, deixa-se a casca e reforma-se o interior.  Algumas pessoas que passam em frente ao prédio e observam sua reforma, acusam o engenheiro de descaracterização do bem; porém, se for analisada de uma maneira mais detalhada, constata-se que na realidade está se buscando deixar a casa o mais próximo possível do original. É uma construção de arquitetura de formas bem elaboradas e funcionalistas. Seu aspecto exterior, após o restauro, permanecerá, porém, internamente segundo Joel Larroca,

O intuito da Corrdenadoria do Patrimônio Cultural do Paraná, no tombamento foi a manutenção da volumetria externa. Então, teoricamente, por dentro, da para fazer uma série de coisas, porém iremos realizar reformas internas para voltar a casa o mais próximo possível do seu original

É relativamente fácil confrontar idéias favoráveis ou não a esse tipo de postura. Uma questão se coloca: é adequado manter a estrutura externa em detrimento da interna? Muitos arquitetos não afirmam que é o espaço interior o mais importante na arquitetura? Aqui entra a função da história neste processo de preservação do patrimônio histórico, o prédio preservado não pode ser visto somente como uma estética bonita ou feia. Preservar não significa idolatrar o passado.  A postura do historiador frente a esses problemas deve ser uma postura de observação da arquitetura de uma maneira em que ela não se encerra, mas avança sobre o espaço.
Afirma Argan (1992, p.236),  

“a arquitetura privada se torna comunicação de valores reais ou atribuídos: ela denuncia, não só com o luxo ou a grandeza, a condição social ou apenas econômica dos proprietários, mas também com a repetição de símbolos de prestígio tomados de empréstimo aos monumentos-modelos e com sua própria situação no contexto urbano”.

Para o historiador, o bem deve ser analisado, visto como um referencial, um documento, um registro de informações que foram deixadas e que podem ser resgatadas. Devemos entender que tudo que aparece como realizações, dentro do contexto da cidade, pode ser interpretado, e a ele dado um valor. Não interessa somente preservar ou conservar um monumento segundo critérios de julgamento ou atribuição de valores dados por especialistas, mas o interesse deve residir, sim, em como o prédio pode continuamente ser reavaliado pela comunidade urbana, já que uma construção não é feita só de pedras, mas de homens. E são estes homens que atribuem valor às pedras, às construções e não somente os especialistas.
O valor de um bem é o que a comunidade lhe atribui e descobrir, estudar esses valores através de épocas diferentes deve ser o papel do historiador, pois o monumento só se transforma em documento a partir de como ele é analisado.
Esta deve ser uma preocupação constante no processo de análise histórica dos patrimônios culturais, que não merecem ser vistos tão somente pelo seu valor estético. São os homens que atribuem valores, transformam coisas em bens, e esses bens constituem o Patrimônio, que deve ser adquirido e transmitido, sempre num ciclo constante. Se isso não acontecer, corre-se o risco de retomar-se à postura de preservar o patrimônio somente como monumento material. Desvencilhar-se dessa noção patrimônio/monumento não é fácil, deve ser constantemente repensada.
Pode ser que, por este caminho, o homem veja na reforma de um prédio histórico, não uma descaracterização, mas a atribuição de uma nova função, revitalização e a continuidade do prédio no contexto social da comunidade. E o cético que acredita que preservar o passado por intermédio de suas construções é congelamento e, por isso, atraso no crescimento urbano, venha a olhar diferente o patrimônio, pois ele também é parte de uma comunidade que atribui valor ao monumento, transformando-o em documento.
A partir de um estudo mais sistemático desse prédio e sua inserção no conjunto de bens móveis urbanos que fazem parte da vida da cidade, poderemos romper com a visão monumental da preservação, percebendo mais especificamente os valores inerentes ao Patrimônio Cultural.

É preciso, pois sublinhar que os valores são sempre atribuídos. Daí serem historicamente marcados. Assim, para se falar de valores culturais, exige-se conhecimento das redes de interação, por intermédio dos quais são produzidos, armazenados, postos em circulação, consumidos, reciclados e descartados os valores (Meneses, 1992, p.189).

O prédio inserido no contexto urbano é uma espécie de escrita, um tipo de texto que o historiador pode decifrar para a sociedade. A leitura do Prédio da Proex, deve ser feita no contexto urbano da região onde ele está localizado e é, por sua vez, ampla, restando apenas reiniciá-la.

Skip to content