O pancadão das mulheres

O pancadão das mulheres

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Mulheres comandam as pistas de casas noturnas e festas universitárias em Ponta Grossa

Cavan, Domingo da Produção, o típico dia para os que curtem pagode e funk. Casa cheia, mal conseguia andar pela pista. Para se locomover até o bar, onde a distância é curta, demorava mais de 10 minutos. Os camarotes sem espaço nas grades, um mar de gente. É assim que o público da casa noturna esperava a última atração da noite: O “Pagode do Trio” tocou a sua última música e ela foi anunciada pelo DJ Rodrigo Lucas,  às 22h54. “A partir de agora, aquele momento tão esperado, com vocês: DJ Mari Silva”. Nesse momento, o som cada vez mais alto de Movimento da Sanfoninha, da cantora Anitta, tomava conta do ambiente até ecoar nas paredes da balada quando ela assumiu o som.  

Maria estuda Serviço Social na UEPG e começou a tocar em 2019, inicialmente como um hobby e hoje a atividade integra sua renda. “Inicialmente aprendi em casa, com ajuda de um amigo. Nunca imaginei que iria atingir um público tão grande. Foi um sonho que construí à medida que a agenda começou a lotar e tocar em grandes eventos, principalmente universitários”. 

A DJ acredita que sua presença em palco serve de inspiração para outras mulheres. “Muitas meninas vêm conversar comigo e acho isso incrível, principalmente por ser uma área dominada por homens. Por mais que seja um caminho difícil, temos que lutar pelas mulheres que estão por vir. A gente mostra que nós podemos tocar qualquer tipo de música”.  

Mesmo reunindo público nas suas apresentações, nem tudo foi uma batida perfeita. Mari conta os episódios de preconceito que já viveu. “Escuto alguns comentários machistas. Já ouvi muitas críticas sobre as minhas roupas, que eu só cheguei até aqui por causa das aparências ou das minhas vestimentas. Eu aceito críticas construtivas, mas quando elas vêm mascaradas de machismo, não podemos aceitar.”

Quando pergunto se ela tem alguma inspiração, Mari cita na hora a DJ Lamarca. “Hoje em dia virou uma grande amiga, eu a admiro muito, tenho muito orgulho dela”.  As Dj ‘s já dividiram palco juntas. Andressa Lamarca, também de Ponta Grossa, abriu o cenário em 2014 e foi umas das precursoras do comando dos sons nas pistas da cidade. “Comecei a estudar no Youtube algumas técnicas de mixagem e segui brincando. Acabei conhecendo pessoas da área, casas noturnas e fui tocando em alguns eventos pequenos. Até que fui convidada para tocar no Batucada, sem cachê, e depois disso colecionei outros eventos universitários”, lembra. 

Lamarca avalia que para mulheres é mais difícil conquistar espaços, mas que isso vem mudando. “Vemos na cidade que a maioria dos artistas DJs são homens. Quando eu comecei não conhecia nenhuma outra mulher, mas hoje posso dizer que conheço várias. Se eu tiver a honra de ser inspiração para qualquer outra mulher, me sentirei com o dever cumprido”. 

Quando questionada se já sofreu algum tipo de preconceito, Lamarca relembra que já se sentiu inferior por ser mulher. “Já me foi pedido coisas que jamais pediriam para homens e já fui repreendida por não tocar músicas de cunho extremamente machistas ou que inferiorizam mulheres. É uma luta diária, mas a gente não desiste”. 

Quer conhecer outras mulheres DJs em Ponta Grossa? Acompanhe na próxima edição da revista Nuntiare.

 

Ficha técnica:

Reportagem e fotografia: Tayná Lyra

Edição e Publicação: Luiza Sampaio e Rafael Piotto

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Carlos Alberto de Souza


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